sexta-feira, 12 de junho de 2009

Campeonato Valadarense 2009

O Campeonato Valadarense de Xadrez 2009 está sendo disputado em um novo e interessante formato: Sistema Schuring com os confrontos individuais decididos em matches de 4 partidas. Cada rodada tem a duração de 21 dias e neste período os jogadores emparceirados devem, de comum acordo, marcar e jogar suas partidas. O tempo de reflexão é 1h nocaute para cada jogador. O evento é promovido pelo CXGV - Clube de Xadrez de Governador Valadares.

O encontro entre meus dois grandes amigos Sérgio Luiz de Sousa e Hélcio Armond Jr. terminou empatado em 2 a 2, resultado que considero normal já que as partidas entre eles sempre foram muito disputadas. Nos velhos tempos eu costumava definir este confronto como "a luta entre a teoria e a prática".

Serjão "meu velho" é o teórico. Perfeccionista, está sempre em busca do melhor lance e vive apurado pelo tempo. Eu já falei dele no Recanto, veja aqui.

Hélcio Armond é outro apaixonado pelo xadrez e um cara difícil de derrotar. Sempre foi páreo duro, apesar de nunca ter sido um estudioso de teoria enxadrística. Hoje em dia eu não sei bem como é, mas nos velhos tempos além de funcionário da receita federal e professor universitário ele estava sempre envolvido em eventos sociais e esportivos. Acho que foi, inclusive, assessor da prefeitura municipal. Junte a isso mulher, filhos e o futebolzinho (he he he) que ele sempre "tentava" praticar, não tinha como sobrar tempo para estudar xadrez, né!

A seguir a 4ª e última partida do match "teoria x prática", com comentários de Mário Guimarães e apoio técnico de Ribamar Mota: (clique aqui para acompanhar no visor)

Sérgio Luiz de Souza X Hélcio Armond Jr
Camp. Valadarense 2009

1. c4 Nf6 2. Nc3 e5 3. Nf3 Nc6 4. d3 O mais jogado aqui é disparado 4.g3, para acelerar o roque. h6 Profilaxia típica do Hélcio. Existem lances mais úteis. 5. g3 Bc5 6. Bg2 a6 Outro lance profilático! Até concordo que o bispo de c5 precisa de uma casa de fuga, mas era hora de rocar. Se 7.Na4 Be7 e a perda de tempo será para os dois lados. 7. O-O Ribamar aponta o tático 7.Nxe5, mas eu não gosto do resultado após 7... Bxf2+. d6 8. a3 Be6 Este bispo poderia esperar mais um pouco pra decidir seu futuro, o roque é mais preciso - nós, os capivaras, precisamos manter o foco no básico e só depois é que podemos nos aventurar... 9. Bd2 Falando em profilaxia... eu teria empurrado b4 de uma vez e depois o bispo poderia escolher em qual diagonal gostaria de atuar. Rb8 Tá demorando a rocar, só os mestres podem dar-se ao luxo... 10. b4 Ba7 11. b5 Ribamar não gosta muito deste lance, mas eu gosto. Além de impedir um provável b5 das negras ainda tem a vantagem de atrasar o roque delas. axb5 12. Nxb5 Bb6 13. e4 Ribamar aconselha 13.e3. Serjão deve ter seus motivos... talvez o plano seja reforçar o domínio sobre d5, seguir com Be3, Nh4, f4, etc. No caso de troca dos bispos o peão em e3 protege d4 e abre a coluna f para operações. Qd7 Bom lance, conforme Ribamar. 14. Qc1 O plano que indiquei no comentário anterior (Be3) é considerado melhor por Ribamar. O que será que Serjão pretende? atrasar o roque pela ameaça a h6? Na5 Parece que funcionou! Ainda acho que o roque era mais indicado, a bateria apontada para h6 não mete tanto medo. 15. Qb2 Defendendo-se da ameaça de Nb3, que ganha a qualidade. Bh3? Capivarada que atribuo à falta de conhecimento teórico, além de deixar passar uma tática simples, claro. Um jogador com um pouco mais de traquejo evitaria tal incursão com o próprio rei ainda no centro. 16. Bxh3 Atrai a dama e captura em d6. Se o cavalo for tomado cai o bispo de b6. Qxh3 17. Nxd6+ Ribamar aponta como mais forte 17.c5 dxc5 18. Bxa5 Bxa5 19.Qxe5+ etc., mas ele não considera os fatores tempo e pressão psicológica. E esta sequência é praticamente forçada, ou seja, Hélcio não terá que procurar o melhor lance para se defender. Na minha opinião Serjão escolheu a melhor das opções disponíveis, porque deixa para o adversário a responsabilidade de escolher o menor dos males. Imagine ter no meio da estrutura defensiva um cavalo inimigo que é praticamente um campolina saltador! Kf8? Já errou! Tinha que tomar em d6, eliminando o perigoso cavalo. 18. Qxe5 Numa situação cheia de possibilidades táticas este não é o melhor lance (segundo Ribamar), mas é bom o suficiente para manter a frente. O melhor, no entanto, é que isto é um forte indício de que Serjão está conseguindo resolver seus problemas com o relógio. Se eu o conheço bem ele daria tudo pra ter uns 40 minutos pra analisar esta posição! Bxf2+? Talvez uma tentativa desesperada de recuperar algum material após as trocas, mas um lance assim só pode ser explicado pelo próprio Hélcio. 19. Rxf2 Nc6 20. Qf4 20. Qf5 força a troca das damas e mantém a peça a mais. O lance jogado também é muito bom. Qg4? Por que não tomar o cavalo? com peça a menos fica mais difícil. 21. Nb5 Um bom lance. Se trocar as damas o peão de c7 vai pro saco, se não trocar, vai também! Qd7 22. Qxc7 Mais um peão de vantagem. Qxd3? 23. Nd6 Agora, para evitar o mate imediato, só entregando material pesado. 1-0

Esta partida me mostrou que o xadrez valadarense está um pouco mudado. Nos velhos tempos uma partida entre esses dois costumava ser diferente, isto é, um final com poucas peças e os dois relógios "na tábua da beirada". O Serjão parece que está superando seus apuros de tempo e o Hélcio, que costumava jogar retrancado, tipo 10 na defesa e um atacante recuado, agora resolveu botar as manguinhas de fora e está jogando mais solto, mais atrevido.

É, cambada, lembrar os velhos tempos só faz aumentar a saudade danada que eu sinto docês!

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