segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Vencendo um futuro campeão

Um dos objetivos deste blog é acompanhar meu desempenho durante um certo período
para ver se meu esquema de estudo está funcionando. Com o registro das partidas será
possível receber dicas e conselhos dos amigos que eventualmente aparecem por aqui.
O problema é que eu ainda não consegui botar em prática os planos de estudo. Enquanto
isso, para não deixar os amigos na mão, vou mostrando algumas partidas do tempo que
eu era candidato a capivara.

Outra coisa que pretendo fazer neste blog é inserir um visualizador de partidas para que
os amigos possam ver minhas capivaradas por aqui mesmo, se é que alguém perde tempo
com isto, he he he!

A partida abaixo foi jogada numa semifinal do campeonato mineiro de 1988, no Clube de
Xadrez Belo Horizonte. Meu adversário era um jovem que anos mais tarde (2005) viria
a ser campeão mineiro. Era a última rodada e com um desempenho sofrível (+2=2-2) eu
já não tinha chances de classificação. Minha preocupação resumia-se em conseguir um
empate para manter a performance de 50%. Os comentários são da época da partida.

Mário Sérgio Guimarães x Luiz Alexandre Gomes
Camp. Mineiro-Semifinal - B. Horizonte/1988

1. d4 Nf6 2. c4 g6 3. Nc3 d5
Uma Grunfeld, menos mal! No último match Karpov-Kasparov, jogaram-se algumas
partidas com esta defesa e eu me lembrava um pouco das variantes. O garoto é forte!
Sempre de papo com gente do calibre de Adriano Caldeira, João Bosco Ladeira e o
gente-muito-fina Nelson Castelo Branco, tem que ser forte. Todo cuidado é pouco!
4. cxd5 Nxd5 5. e4 Nxc3 6. bxc3 Bg7 7. Bc4 c5 8. Ne2 O-O 9. O-O Nc6
10. Be3 cxd4 11. cxd4 Bg4 12. f3 Na5
Na sequência anterior eu procurei olhar com calma cada movimento para evitar
qualquer inversão que pudesse complicar as coisas. Meu parceiro, ao contrário,
jogava rapidamente e se levantava para observar as outras partidas. Será que ele
conhecia bem a abertura? neste caso eu podia me lascar todo! Minha esperança é
que ele estivesse "que nem eu" na base da decoreba...
13. Bxf7+ Rxf7 14. fxg4 Rxf1+ 15. Kxf1 Qd7
Até a tomada de Rei eu me lembrava, mas e agora? Não sei o que Karpov e cia
jogariam, mas eu não vou devolver o peão assim de mão beijada. Mesmo porque,
não via nada melhor, portanto...
16. h3 Rf8+
Eu já ia voltar, não precisa empurrar...
17. Kg1 Kh8 18. Qd2?
Típico de capivarão mesmo! Melhor era 18.Qd3
18... Nc4 19. Qd3 Nxe3 20. Qxe3 Qa4 21. e5!
Gozado, o erro no lance 18 acabou me deixando com boa posição. Acho que meu cavalo
é, por enquanto, mais forte que o bispo adversário. Estou gostando do meu jogo!
21... b6
Neste momento notei uma mudança fundamental: meu parceiro não se levantou da
cadeira nos dois últimos lances! Aliás, gastou bastante tempo para fazer dois lances
que absolutamente não me incomodaram. Comecei a me sentir mais relaxado.
22. Nf4?
Joguei meu valioso pangaré numa boa casa e saí para pegar um café. Quando voltei
e olhei o tabuleiro quase me engasguei com o café! Basta ele meter o padreco em h6
e bye-bye cavalinho...
22... Qc4?
Graças a Deus! Aliás, Quando será que ele vai começar a empurrar sua maioria de
peões da ala da dama? Ou não vai?
22. g5!
Agora o padreco está enclausurado!
23... Rd8
Ameaçou alguma coisa. Tem atacados a2 e d4, mas eu nem dou bola!. Quero é ganhar
a coluna e entrar na sétima.
24. Rc1 Qxa2
Como d4 é tabu, comeu em a2.
25. Rc7 Kg8?
Pretendendo comer em d4 após o xeque em a1. 25...Bf8, defendendo e7, talvez
fosse melhor. Eu pretendia jogar d5 seguido de Ce6 "partindo prá cima". Se eu
me demorasse os peões pretos da ala da dama iam me dar trabalho.
26. Rxe7
Já que deixou eu entro. E agora a ameaça Ce6 é ainda mais forte.
26... Qa1+ 27. Kh2 Qxd4 28. Rxg7+ 1-0
Quando tomei o bispo ele estava debruçado sobre o tabuleiro e foi bem debaixo
de seu nariz. Acho até que se assustou um pouco. Olhou a posição por alguns
instantes e parou o relógio. Após 28... Kh8 (28... Kxg7 ou 28... Kf8 29. Ne6+)
eu pretendia 29. Qxd4 Rxd4 30. Rf7 e o máximo que ele poderia fazer seria se
espernear um pouco.

Atualmente o MF Luiz Alexandre (campeão mineiro de 2005) tem 2345 de
rating FIDE. Se me pega agora...!! :(

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[Event "Camp. Mineiro-Semifinal"]
[Site "Belo Horizonte"]
[Date "1988.??.??"]
[Round "?"]
[White "Guimaraes, Mario Sergio"]
[Black "Gomes, Luiz Alexandre"]
[Result "1-0"]

1. d4 Nf6 2. c4 g6 3. Nc3 d5 4. cxd5 Nxd5 5. e4 Nxc3 6. bxc3 Bg7 7. Bc4 c5 8.
Ne2 O-O 9. O-O Nc6 10. Be3 cxd4 11. cxd4 Bg4 12. f3 Na5 13. Bxf7+ Rxf7 14. fxg4
Rxf1+ 15. Kxf1 Qd7 16. h3 Rf8+ 17. Kg1 Kh8 18. Qd2 Nc4 19. Qd3 Nxe3 20. Qxe3
Qa4 21. e5 b6 22. Nf4 Qc4 23. g5 Rd8 24. Rc1 Qxa2 25. Rc7 Kg8 26. Rxe7 Qa1+ 27.
Kh2 Qxd4 28. Rxg7+ 1-0

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

A fórmula mágica(!?) - parte 3

No início deste artigo eu falei de minha vontade de estudar xadrez e dos problemas
a superar. Na outra parte eu relacionei o que fazer e como fazer para me aprimorar.
Nesta terceira e última parte vamos tentar colocar em prática a "fórmula mágica" e
ver se funciona!(?).

Como eu disse, o método tem que ser flexível - quiçá tolerante - e divertido para
que funcione. Isto está claro porque trata-se de um hobby e não faz sentido se for
desagradável. Por outro lado tem que existir um mínimo de obediência e disciplina,
senão deixa de ser um "programa de treinamento".

Segue um resumo do esquema, que deverá ser semanal:

1 - Finais e táticas: 1 hora por semana (30 minutos, no mínimo, para cada um);

2 - Aberturas: 2 horas (tanto faz se "geral" ou "repertório");

3 - Partidas de Mestres: 2 horas (qualquer dos métodos é válido);

4 - Prática e análises das próprias partidas: 2 horas, no mínimo.

Total: 7 horas (de segunda a domingo).

Acompanhamento:

A distribuição do tempo durante a semana não importa, desde que obedeça o mínimo
estipulado para cada item. Qualquer excesso é bem-vindo e não poderá ser computado
para o próximo período.

Segue um exemplo de papeleta de controle semanal. Todo dia é anotado o tempo que foi
gasto em cada item, para que ao final da semana todos tenham cumprido o horário que
foi estabelecido.

Data: __ /__ /__ .....Seg.....Ter.....Qua....Qui.....Sex.....Sab.....Dom
Finais......................|____|____|____|____|____|____|____| = 30min
Táticas....................|____|____|____|____|____|____|____| = 30min
Aberturas...............|____|____|____|____|____|____|____| = 2hs
Partidas/Mestres...|____|____|____|____|____|____|____| = 2hs
Prática/Análises....|____|____|____|____|____|____|____| = 2hs

Considerações finais:

Estou certo que este método de estudo vai melhorar meu nível de jogo. A certeza
vem do fato de que já faço quase tudo que foi proposto, porém de forma bastante
desordenada e sem critério nenhum. Um pouquinho de disciplina e persistência vai
ajudar este capivara a apanhar menos. :)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

A fórmula mágica(!?) - parte 2

Na primeira parte deste artigo eu falei da necessidade que tenho de estudar xadrez.
Sou apaixonado pelo jogo e quero jogar de igual para igual, se possível superar, as
criaturas da minha espécie (ver foto à direita). :))

Antes de passar para a esquematização do programa de estudo, esclareço que tanto na
questão da carga horária quanto nos temas abordados ele deve ser totalmente flexível,
para que respeite minhas limitações e seja o mais proveitoso e divertido possível.
Não adianta montar um esquema muito rigoroso e não cumpri-lo. Vamos lá:

O que estudar e como estudar?

Finais e táticas

O estudo de finais e a prática de temas táticos é essencial para o aprimoramento do
enxadrista. Fazer exercícios e resolver problemas dos referidos temas é primordial.

Aberturas - Geral

Escolher uma abertura, procurar conhecer suas principais variantes e tentar aprender
seus objetivos estratégicos, suas particularidades e possíveis armadilhas.

Reproduzir algumas partidas de mestres que utilizaram a referida abertura, de modo
rápido, sem se aprofundar nas análises, apenas para se familiarizar com ela.

Jogar algumas partidas rápidas (ou blitz) de preferência alternando as cores. Não
sendo possível ao vivo ou on line, uma boa engine quebra o galho.

O importante neste caso é aprender o básico. Se eu conseguir sair de uma abertura,
que não costumo jogar, com uma partida razoável ficarei satisfeito.

Aberturas - Repertório

As aberturas que costumo jogar, ou seja, que já fazem parte de meu repertório terão
outra abordagem. Neste caso o estudo é mais criterioso e a prática menos superficial,
com um estudo mais aprofundado de variantes e sistemas e uma prática mais intensa.

Estudar partidas de mestres

O pouco que sei de xadrez aprendi reproduzindo as partidas dos mestres. Morando no
interior onde não se tem clubes, instrutores e às vezes nem parceiros, esta era a única
maneira de aprender alguma coisa no período AC (antes do computador). É muito útil
reproduzir as partidas e tentar entender porque os mestres jogaram determinado
lance, porque jogaram daquela maneira. É outra forma de estudar estratégia e tática.

Um sistema ainda mais aperfeiçoado é o chamado "Lance do Mestre", bastante utilizado
em alguns clubes: O instrutor passa a partida junto com os alunos questionando alguns
pontos e deixando que eles acertem o "lance do mestre" - Eu possuo 3 livros específicos
para este tipo de treinamento, de autoria de Marcos Moennich.

Um método alternativo é o que chamo de "Lance do Capivara", que consiste em analisar
uma partida de torneio regional ou estadual - rating entre 1800 e 2200, por exemplo.
Faço minhas observações, anoto as alternativas e depois verifico com auxílio de uma
engine. É muito interessante e divertido, principalmente quando descubro algo do tipo
"se fosse eu, tava no papo". Algumas vezes, porém, me decepciono bastante! :(

Prática e análises das próprias partidas

Este é o item mais importante para o desenvolvimento das habilidades do enxadrista.
Nas partidas blitz, conferir a abertura jogada e descobrir o que definiu a partida.
À medida que o tempo de reflexão aumentar, analisar mais detalhadamente, checando a
abertura com a teoria vigente, verificando as variantes e sistemas e definindo as linhas
mais se adequam ao estilo de jogo.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

A fórmula mágica(!?) - parte 1

Resolvi estudar xadrez! Pois é, depois de cinquentão e capivara assumido, tentarei dar um
pouco de trabalho aos adversários. No xadrez por correspondência eu sempre me saí bem,
mas agora que tenho jogado mais ao vivo, principalmente on line, tenho apanhado bastante.
É verdade, o xadrez postal deixa a gente viciado: qualquer coisa é só consultar as bases.
Vixe, parece coisa de político!

Outro dia, no FICS, alguém respondeu minha Siciliana com a variante fechada. Ora bolas,
isso não se faz! Há quanto tempo não jogo esta variante? Se fosse postal seria fácil, tenho
um monte de partidas para consultar nos bancos de dados, mas resolver alí na hora, no blitz?
me lasquei todo! Pensando bem, se eu respondo com o PR, tentando uma Ruy Lopez e ele
vem de Vienense? tava lascado do mesmo jeito! É, preciso mesmo estudar.

Um dos problemas está identificado: preciso dar uma geral nas aberturas. Nem que seja
na base da "decoreba", pelo menos o básico eu preciso aprender. Sempre digo aos meus
treinandos que o importante é sair da abertura com um jogo razoável. Memorizar uma
abertura pode não ser o ideal mas ajuda e muito nessa hora.

Outro problema que terei que superar é a indisciplina. No trabalho (argh) sempre fui
correto com horários, mas no resto sou uma lástima. Parece que fiquei traumatizado,
não marque hora para mim que é bobagem, não vou cumprir. Claro que refiro-me à hobby,
diversão, etc., nas coisas sérias continuo responsável! ;-)

Tem também a preguiça! Rapaz, como fiquei preguiçoso depois que me aposentei! Assim,
o programa de estudos tem que ser uma coisa muito divertida ou não vai funcionar.

O problema que considero mais sério é a falta de parceiros. Não tenho com quem jogar,
analisar, discutir posições, testar variantes, etc. Tudo tem que ser via internet.
Pode parecer bobagem mas faz uma diferença enorme. Lembro-me bem de minha turma de
Governador Valadares discutindo uma posição ou variante. Aprendia-se muito mais.

Quando eu jogava mais ao vivo, quase sempre era forçado a aprender novas aberturas,
algumas após amargas derrotas. Eis um bom exemplo: No final dos anos 80 eu defendi
o 3° tabuleiro do Xadrez Club de Gov. Valadares contra uma equipe do Clube de Xadrez
Belo Horizonte. Sentei-me frente a um garoto que deveria ter no máximo uns 12 anos.
Empatei a primeira, de brancas, uma Ruy Lopez trancada e sem graça e partimos para
a segunda partida. Quando eu pensei que seria uma tranquila Italiana, o pirralho me
sapecou um Gambito Evans na fuça que me fez perder o rumo! Um verdadeiro massacre!
A tunda que levei me fez expert na defesa do tal gambito, embora ninguém mais teve
"coragem" de usa-lo contra mim e... já esqueci tudo! A propósito, o tal pirralho é o
(hoje MF) Adriano Caldeira, que aliás anda sumido da mídia.

Andei pesquisando em vários sites, blogs e livros. Anotei conselhos de treinadores,
professores e mestres. Analisei vários programas feitos por pessoas capacitadas e
experientes. Cheguei à conclusão de que o esquema de estudo tem que ser individual,
ou seja, específico para mim, adaptado às minhas condições, considerando os prós e
contras acima identificados e outros que possam surgir... A idade pesa? :))